É notório que Agostinho foi quem mais causou impacto na teologia ocidental, não só em sua época, mas durante a Idade Média, o período da Reforma Protestante indo até os nossos dias. Aurelius Augustinus nasceu em Tagaste, norte da África, filho de pai pagão (que trabalhava na área administrativa de Roma) e de mãe cristã, Mônica, mulher piedosa que durante anos a fio orou incansavelmente pela conversão de seu filho e de seu marido.
Posteriormente, Agostinho continuou seus estudos de retórica em Madaura e em Cartago, a principal cidade da região. Tais estudos garantiriam uma boa posição na administração pública. Um pouco mais velho, se uniu a uma concubina, e com ela teve um filho, Adeodato, ele, porém nunca se casou.
Ao estudar o retórico Cícero, percebeu que a retórica era importante como meio mais adequado para melhor expressar os argumentos, porém, muito mais importante era a verdade que esta deveria expressar. Agostinho saiu em busca desta verdade primeiramente no maniqueísmo, doutrina dualista segundo a qual há duas forças espirituais igualmente poderosas governando o mundo, o princípio do bem e o princípio do mal. Ao surgirem dúvidas quanto a coerência das doutrinas, ele foi orientado a procurar um certo Fausto, que, teoricamente poderia esclarecer todas as suas dúvidas. Mas, esse encontro só lhe acrescentou decepções, pois suas dúvidas não foram sanadas.
Em Roma, se dedicou ao estudo de diversos autores platônicos e concluiu que a realidade não consistia somente em matéria, mas também em realidades intelectuais ou espirituais. Chegando em Milão, Agostinho caiu definitivamente nas redes de Deus ao ouvir os sermões do famoso bispo desta cidade, Ambrósio, pastor de sua mãe, Mônica. “Seu objetivo não era tanto escutar o que Ambrósio dizia, mas sim estudar a maneira como ele dizia, pois Agostinho tinha interesse nele como professor de retórica”
Tempos depois, lendo o texto de Romanos 13:13 e 14, foi vivificado por Deus e disse a Mônica que havia se decidido a tornar-se cristão. Agostinho e seu filho Adeodato foram batizados em Milão por Ambrósio. Na viagem de volta a Tagaste, Mônica adoeceu e morreu no porto de Óstia, o que na vida de Agostinho originou o início de sua vida como profícuo escritor cristão.
Numa visita à cidade vizinha de Hipona, o bispo desta cidade o obrigou contra a sua vontade a aceitar ser ordenado sacerdote e em seguida bispo. Nesta cidade Agostinho veio a falecer no ano de 430, numa incursão bárbara (vândalos).
“A obra teológica de Agostinho girou principalmente em torno das controversas em que se viu envolvido como bispo e defensor de seu rebanho e de sua fé.” Desta forma, podemos elencar quatro grandes períodos no escritos de Agostinho, delimitados pelas seguintes controvérsias: maniqueísmo, platonismo, donatismo e pelagianismo.
Não podemos deixar de ressaltar que uma das mais preciosas contribuições deixadas por ele para a cristandade foi o
“modo como Agostinho entende o conhecimento, pois sua epistemologia dominou os primeiros séculos da Idade Média, determinando grande parte do curso da teologia, filosofia e as ciências. Como Platão, Agostinho acreditava que os sentidos não podem ser fonte de verdadeiro conhecimento. O verdadeiro conhecimento, não se refere as coisas passageiras que os sentidos percebem, mas sim as verdades eternas, a realidade das coisas que os sentidos jamais podem penetrar (...) Agostinho desenvolveu a teoria do conhecimento como ‘iluminação’. De acordo com ele, o que acontece é que o verbo eterno de Deus ilumina a mente humana, colocando nela todo o conhecimento verdadeiro.”
Tal influência foi tão decisiva na maneira de pensar da igreja, tanto que possui o honorável título de “doutor”, ao lado de homens notáveis como Ambrósio e posteriormente Tomás de Aquino.
“Para os medievais, baseando-se na autoridade de Agostinho, o conhecimento não pode vir por indagação e nem por observação das realidades materiais. Esta foi uma das causas porque a Idade Média, até o redescobrimento de Aristóteles, se ocupou pouco ou quase nada das ciências físicas e naturais. A influência da Agostinho, foi muito grande, não somente no que se refere a teoria do conhecimento mas também todo campo da teologia e da filosofia. Foi principalmente por meio de Agostinho que a Idade Média conheceu a antiguidade cristã. Ele foi inovador no seu tempo (...) A interpretação neoplatônica do cristianismo que ele propôs era uma inovação – uma inovação talvez para o seu tempo, mas certamente não era o único modo como os cristãos haviam pensado sobre tais assuntos.”
A abrangência temática e a autoridade normativa creditada pela Igreja aos escritos de Agostinho gerou até mesmo mal entendidos históricos, como percebemos nas palavras do historiador Justo Gonzáles, “reformadores como Lutero e Calvino reclamavam sua autoridade e diziam que os seus ensinamentos concordavam com o do santo bispo de Hipona; seus opositores católicos diziam o mesmo com relação a suas próprias posições.”
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